segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A porta de entrada para uma carreira internacional: INOV

Mais de cinco mil jovens fizeram estágios em 1100 entidades espalhadas por 80 países nos últimos 20 anos.
Inov

Quando terminou a licenciatura em Economia, aos 23 anos, Francisco Neto tinha "imensa vontade de ver coisas lá fora, de ter contacto com o exterior". Foi isso que em 1997 o levou a inscrever-se na 1.ª edição do INOV Contacto, um programa de estágios profissionais feito em contexto internacional, gerido pela aicep Portugal Global. Durante nove meses estagiou na filial brasileira da empresa de plásticos Logoplaste, em São Paulo. "Aconteceu uma combinação maravilhosa. Fui colocado numa empresa fantástica, num país maravilhoso e na melhor cidade do mundo. Um casamento bestial, apesar de só ter conhecido a noiva à porta da igreja." Ou seja, Francisco só soube qual era a empresa e o destino poucos dias antes de embarcar.
Após o estágio, foi contratado pela empresa, onde permaneceu 12 anos. Passou pelo Reino Unido, Itália, Estados Unidos, México, Canadá. "O INOV Contacto foi uma porta de entrada numa empresa bestial, que me permitiu uma carreira internacional. Trabalhei em três continentes e em dez países." Enquanto estava na empresa, acolheu os estagiários do programa que por ali passaram "e mais de metade foram recrutados para diferentes partes do mundo". Trabalhou na Corticeira Amorim, na Vicaima e na reabilitação do Mercado do Bolhão, no Porto. "Há dois anos fui desafiado para relançar a Ach. Brito, para dar uma dimensão internacional a uma empresa centenária." Acabado de chegar de Nova Iorque, Francisco diz que "para quem quiser ter uma experiência plena, divertida, com trabalho, esta é a plataforma. É quase um caso de estudo".
Os jovens que queiram inscrever-se no programa podem fazê-lo até ao próximo dia 15 de setembro, mas para as entidades de acolhimento as candidaturas prolongam-se até ao final do mês. Para a 22.ª edição estão previstos 250 estágios remunerados - com bolsa e subsídio de estada -, que decorrem em qualquer parte do mundo, pelo período de seis meses, "numa entidade ou empresa selecionadas de acordo com o seu reconhecido interesse e mérito nacional e/ou internacional".O INOV Contacto destina-se a jovens até aos 29 anos que não estejam a trabalhar nem a estudar à data do estágio. Os requisitos passam por formação superior, domínio do inglês, motivação para de-senvolver uma carreira internacional e disponibilidade para viver no exterior. "A seleção é feita de forma bastante exigente e rigorosa. O facto de os jovens não poderem escolher o seu destino de estágio, mas este ser atribuído em função das suas valências e das necessidades identificadas pelas entidades, é também um fator distintivo", diz Luís Castro Henriques, presidente da aicep. Antes de viajarem, os participantes são integrados num campus, onde ficam durante dois dias.
Largar emprego fixo
O Brasil foi também o país de destino de António Nascimento, um jovem de 29 anos que trabalhava num banco há dois anos quando decidiu largar o emprego para se candidatar ao INOV Contacto. "Não gostava do que fazia e não tinha perspetivas de carreira a curto prazo. Além disso não tinha nenhuma experiência internacional e não tinha nada a perder", justifica. Estávamos em 2012 quando iniciou o estágio na Casa de Santa Vitória, empresa do grupo Vila Galé, tendo sido enviado para Salvador da Bahia, no Brasil. "Queriam alguém para dinamizar o mercado brasileiro, onde a empresa tinha quatro distribuidores."
Durante os seis meses de estágio, António, licenciado em Gestão de Empresas, visitou distribuidores, detetou necessidades e fez sugestões de melhorias. "Tive a possibilidade de ter uma experiência internacional, conhecer bem outro mercado e uma cultura completamente diferente da nossa. Só a língua é que é igual." Já a empresa "teve a oportunidade de ter alguém com competências no mercado sem um grande investimento". Quando terminou, foi convidado a permanecer na organização, tendo ficado responsável pela gestão em Portugal. "Passei a gestor de conta, cresci e alarguei responsabilidades. Hoje sou responsável pelo mercado nacional e de exportação."
Até aos altos quadros
Vítor Gregório, 42 anos, não tinha grandes expectativas quando se candidatou ao programa em 1998. "Sabia que a triagem era difícil." Tinha terminado a licenciatura em Gestão e, após uma boa experiência em Erasmus, desejava "ter uma carreira internacional". Candidatura aceite, viajou para o Chile para estagiar na Bosch Thermotechnology. "Foi uma experiência fantástica. Quando cheguei ao Chile havia um plano para o qual tinha sido preparado em Portugal. O programa estava muito bem desenhado", recorda. Ainda durante o estádio recebeu uma proposta formal da Bosch para trabalhar na Vulcano em Portugal. Um gesto que o tocou, visto que ainda ia a meio do programa. Voltou para Portugal, onde ficou como responsável de vendas para exportação, tendo ficado a desenvolver mercados da América Latina e a abrir novos mercados. Seguiu para a Argentina, passou pelo Brasil e voltou para Buenos Aires, onde casou. Regressou ao Brasil e desde março de 2015 que está nos Estados Unidos. É responsável regional da Bosch Termotecnologia na América do Norte. "O programa marcou a minha carreira e a minha vida. Desenvolvi uma carreira fora do país sem nunca perder o cordão umbilical a Portugal. O networking que se gerou nessa geração foi fantástico. É uma coisa que se leva para a vida."
Vítor não tem dúvidas de que uma das coisas que o distinguem enquanto gestor resulta de "ter vivido em diferentes culturas e da capacidade de se adaptar às mesmas". Algo que conseguiu graças ao INOV.
Mais de cinco mil estágios
Até ao momento foram realizados mais de cinco mil estágios em 1100 empresas espalhadas por 80 países, sobretudo no setor da consultoria, tecnologias de informação, organizações multilaterais e institucionais (nacionais e estrangeiras), turismo e vinhos. A taxa de empregabilidade é de 70%, cerca de 60% em empresas nacionais. Cerca de 30% dos estagiários mantêm-se nos mercados externos, 70% regressam a Portugal.
O grupo Bosch é um dos que têm recebido estagiários do INOV Contacto. "Ao longo dos últimos 20 anos recebemos 52, 15 dos quais ficaram a trabalhar, fazem parte dos quadros. Além disso, recebemos 12 ex-estagiários que não fizeram estágio na empresa mas foram contratados por nós", adianta ao DN João José Ferreira, diretor de recursos humanos da Bosch Termotecnologia. Para o grupo, "é um valor acrescentado enorme ter 27 ex-estagiários do programa com experiência internacional".

Chile, Brasil, Argentina, Alemanha, China e México foram alguns dos destinos por onde passaram os jovens selecionados para estágio na Bosch. "Ficam um mês em Aveiro ou em Lisboa e depois vão para fora", explica. Após uma "seleção criteriosa", os estagiários "levam know-how para as organizações lá fora". Segundo João José Ferreira, "há uma integração muito positiva e um valor acrescentado para a organização". Além disso,prossegue, "o programa é uma ótima forma de recrutar. Se no currículo tiver INOV Contacto, temos garantias de que é um candidato para assumir funções".

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